O Brasil e toda sua representatividade

O homem não vive muito, acho que mesmo se chegarmos aos 100 será insuficiente para vermos e aprendermos tudo o que planejamos. Por isso acredito ser tão importante manter os ouvidos sempre atentos e extrairmos o máximo da experiência alheia. Acontece que nada substitui o aprendizado em foco, ir à fonte primária, ver com os próprios olhos. Cá estou “morando fora” e aquela história de que as pessoas não sabem onde fica o Brasil, que língua falamos ou que pensam que há macacos por toda parte ficou no passado, se é que um dia existiu.

Lógico, o recorte que tenho é limitado, um país em que toda população é metade do número de pessoas que usam o Metrô e a CPTM por dia em São Paulo. Sim, essa é a Nova Zelândia. Mas ao mesmo tempo é uma amostra interessante, considerando que estamos tão distante do Brasil. Desde que cheguei aqui tenho me surpreendido com o conhecimento que as pessoas têm do nosso país.

Não lembro exatamente qual foi o primeiro episódio, mas trabalhava como garçonete em festas de casamentos e não importava qual fosse a origem dos noivos (iraquianos, kiwis, australianos, indianos…), havia sempre alguém que ao perceber o sotaque, me perguntava de onde eu era e subsequentemente a minha resposta já dizia um claro “Obrigado” ou “Oi, tudo bem?”. Se tornou recorrente, mas eu não deixava de me surpreender. Em uma das festas, a pessoa fez questão de ensinar “Obrigado” para todos os convidados da mesa que eu estava responsável. Isso me encheu de alegria! Mas tenho que confessar que já ouvi “Gracías” também. Mas não tem como culpá-los, em um continente que boa parte dos países falam espanhol, é sim difícil desassociar o brasileiro desse contigente.

Por causa da Copa do Mundo, muitos já estiveram no Brasil/estão com passagem comprada/sonham em ir. Depois do “Oi , tudo bem?”. A pergunta mais comum é “Você é de São Paulo?”, porque sim, eles sabem que é uma das maiores cidades do Brasil. E isso também me surpreende, porque sempre considerei o Rio como a cidade mais famosa. Não sei por quê, mas foram poucos que me perguntaram de lá. Será que porque eles nunca conseguem pronunciar RIO? Talvez.

Poderia contar aqui qualquer uma das várias histórias de bar de franceses, ingleses e kiwis que já foram para Florianópolis, Recife, São Paulo ou Rio. Mas vou escolher uma que aconteceu fora do bar. Eu estava em uma bairro de Wellington, onde eu iria fazer uma entrevista de emprego, e como cheguei muito cedo decidi entrar em um sebo. Como sempre, o sotaque sempre nos entrega e o dono, de uns 80 anos, me disse que estava indo para o Brasil em novembro, mas ele não lembrava o nome da cidade. Já estava achando que ele tinha dito aquilo só para puxar papo, mas não, ele pegou as passagens e falou com aquele sotaque bem arrastado: JOAU PESSÓA. O sorriso largo foi inevitável!

E um dos motivos pelo qual o Brasil se tornou tão conhecido acredito que não seja apenas pelas competições esportivas internacionais, mas também porque estamos bem representados nas artes. Foi aqui que assisti “The Salt of the Earth”, um documentário que conta a história do fotógrafo Sebastião Salgado. Sala lotada e, pelas conversas de corredor que ouvi, percebi que as pessoas o conheciam. E imaginem a minha alegria ao ouvir o sotaque capixaba do pai do Sebastião com a legenda em inglês. Era a minha língua sendo traduzida para tantas pessoas e não o oposto.

Outro filme que também teve sala cheia foi Citizen Four, que conta a história de Edward Snowden. O foco das escutas dos EUA era o Brasil e jornalistas de O Globo tiveram grande destaque na publicação de matérias relacionadas ao esquema de espionagem. Ah, ainda falando sobre cinema, mas de uma pessoa já me perguntou se eu conheço “Cidade de Deus”. E nesse último fim de semana, fui à exposição “50 grandes fotografias da National Geographic” e, claro, também estávamos lá. Era apenas uma fotografia dos botos cor de rosa da Amazônia, mas além disso, havia um vídeo de entrevista com o fotógrafo impressionado com a existência de um golfinho de água doce.

Então sim, aquela história de que ninguém conhece o Brasil é só história mesmo. A questão é outra, eles nos conhecem e são aterrorizados pelas notícias de violência. Há um desejo enorme de ir, mas um receio de ser morto na esquina. Eu que nunca fui assaltada, sei que por sorte, faço questão de incentivá-los, com a consciência que mais tarde eles podem me culpar por terem sido assaltados. Felizmente, ignorância não é mais um problema, mas, infelizmente, a realidade ainda é.

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